Se perguntamos, a qualquer português, qual é o prato típico de Setúbal, a resposta é pronta: “o choco frito”. Mas, infelizmente, não o foi através dos tempos.
Já houve quem dissesse que, até aos anos 60, do passado século, o prato típico de Setúbal foi a fome, o que foi verdade. Setúbal vivia da pesca da sardinha. Se esta faltava, a miséria instalava-se nas casas dos pescadores e dos operários e operárias da indústria de conservas de peixe. Então nos primeiros meses de cada ano era quase uma praga. Mesmo nos meses normais, a maioria da população alimentava-se de batatas, arroz, massa, pão, algum peixe, pouca ou nenhuma carne e bebia café feito de chicória. Leite, fruta, queijo, fiambre, manteiga, etc., era umas puras ilusões que raramente eram consumidas.
Nos anos 30 e 40, quando um turista lisboeta vinha a Setúbal, começava por visitar o mercado do Livramento. Depois ia a um dos restaurantes da baixa, o Gravatinha ou o Bocage e comia uma pescada cozida com todos. Isso, sim, era o prato típico de Setúbal. Se fosse mais abonada, então encomendava uns salmonetes grelhados, excelentes na época própria.
Nos anos 60, com a industrialização de Setúbal, o nível de vida subiu substancialmente e finalmente uma grande parte da população passou a ter posses suficientes para comer melhor. Foi nessa altura, inícios dos anos 70, que algumas antigas tabernas começaram, aos almoços, a servir peixe grelhado, sardinha em geral. A moda foi-se espalhando e vários restaurantes de peixe grelhado surgiram por toda a cidade.
Nos finais do século passado começou a moda do choco frito a graças ao choco congelado importado dos mares da Índia.
Agora, em pleno século XXI, Setúbal já possui vários pratos muito apreciados pelos visitantes trazidos pelo grande fluxo de turistas que a cidade recebe.
Esta foi a última crónica escrita pelo autor. A todos os leitores atentos o meu muito obrigado pela atenção.
Professor Alberto de Sousa Pereira