Ópera, Pastéis e Memórias: Um Encontro na Taberna do Fernando dos Jornais

Ópera, Pastéis e Memórias: Um Encontro na Taberna do Fernando dos Jornais

Passavam poucos minutos das sete quando Fernando põe em cima da mesa vários copos e os famosos pastéis de Bacalhau. As boas conversas não se fazem de barriga vazia. Na taberna do Fernando dos Jornais há sempre um recanto onde qualquer setubalense se pode reconhecer: uma parede com fotos do Vitória, um retrato antigo da doca com uma traineira, o número dos táxis impresso no suporte para guardanapos ou um sai-sempre de bolinhas coloridas.

Fernando e Conceição Paixão encarnam a alma do Troino, o património que não se vê. Fernando, nascido e criado na rua Vasco da Gama, não conheceu outro paradeiro.

A taberna, agora com cerca de 115 anos, sempre constituiu o património familiar. Ardina de profissão, andou pelas ruas de toda a cidade a distribuir jornais, o que lhe valeu a alcunha que tem até hoje: “Fernando dos Jornais”.

“Era um trabalho bom porque acabava cedo, depois tinha a tarde toda para ajudar o pai na taberna onde havia sempre muito para fazer!”.

Foi assim que Conceição e Fernando se tornaram na terceira geração de taberneiros, sem nunca sair do mesmo sítio.

No entanto Conceição Paixão confessa que falhou a vocação. “Eu adoro cantar, sempre quis aprender música. Os meus pais nunca me deixaram porque era coisa para homens. O que eu mais adoro é ouvir cantores acompanhados por orquestras.”

Foi assim, com a mesma naturalidade com que nos confessa a sua alma de artista, que aceitou de muito bom grado acolher o evento que terá lugar no próximo sábado, pelas 17h “Ópera no meu Bairro”.

“Acho muito importante dar a conhecer às pessoas o canto lírico. Elas acham que não gostam porque não conhecem, há uma grande falta de educação para a cultura no nosso país. Nós disponibilizamos a casa desta vez e gostaríamos muito que houvesse mais vezes”
Lamenta ainda que o conceito de taberna, que considera ser um local de recreio para as gentes do povo através dos tempos, tenha sido desconsiderado pela lei e não seja protegido como um verdadeiro património histórico e cultural em Portugal.

É precisamente nesse intuito que a Associação Setúbal Voz criou o programa “Ópera no meu bairro”, uma iniciativa que pretende tornar a ópera acessível a todos, através de espetáculos ao vivo em ambiente descontraído e acolhedor.