No dia 15 de Fevereiro de 1941, um sábado, uma tempestade extratropical, conhecida como “o ciclone”, atravessou Portugal desde Sagres até Bragança.
Ventos da ordem dos 140 quilómetros por hora sopraram ao longo do país, causando enormes estragos materiais, mais de uma centena de mortos e várias centenas de feridos.
Os mortos e feridos em geral foram vítimas de quedas violentas ou foram atingidos por paredes, árvores ou até chaminés derrubadas pelo vento.
Nos locais à beira-mar, houve naufrágios devido ao vento e à violência das vagas que apanharam alguns pescadores desprevenidos. Houve até uma vaca atirada ao ar pelo vento, que depois morreu ao cair e um carteiro, em Marvão, atingido pelo vento, as cartas voaram da sacola e nunca mais foram encontradas.
A pressão atmosférica em Portugal atingiu o seu valor mais baixo de sempre, 975 milibares. Como a pressão baixou muito, as águas dos rios, lagos e oceano subiram de nível, inundando locais nunca antes atingidos.
Em Setúbal o ciclone teve a maior violência no final da manhã. A cidade foi invadida pelas águas do Rio Sado e até se viam plantas marinhas no centro da cidade. Afundou-se um lugre, com 200 toneladas de cimento e um barco rebocador com sete tripulantes. Um hidroavião inglês teve de amarar de emergência, na Tróia, pois esgotou todo o combustível a lutar contra os ventos ciclónicos. Muitas árvores da cidade foram derrubadas e, no Largo da Ribeira Velha, o vento arremessou uma senhora idosa contra uma parede, causando a sua morte. Na cidade, além de várias inundações, muitos telhados e chaminés foram danificadas. No total morreram 15 pescadores e afundaram-se quatro barcos na costa marítima setubalense.
Este fenómeno deixou uma impressão forte no imaginário dos setubalenses que o viveram, talvez devido à sua violência e raridade.
Professor Alberto de Sousa Pereira