Benjamim Elias e o xadrez: mexer as peças já é saber jogar

Benjamim Elias e o xadrez: mexer as peças já é saber jogar

Há encontros que se tornam linhas mestras de uma vida. Para Benjamim Elias, o xadrez entrou na sua vida em 1972 através dum programa de televisão que transmitia o duelo entre Bobby Fischer e Boris Spassky. Um tabuleiro mural, montado em pleno telejornal, revelou-lhe o desafio silencioso da batalha estratégica. Não sabia ainda jogar, mas ficou a saber que queria aprender.

Cinco décadas depois, Benjamim continua a ensinar o que descobriu nesse dia: que o xadrez é um jogo feito de tempo, paciência e vontade. E, sobretudo, que se aprende melhor a jogar quando se partilha o saber. Aos 66 anos, é voluntário no Centro Comunitário da União das Freguesias de Setúbal, onde todas as terças-feiras à tarde se dedica a ensinar crianças e jovens a movimentar as peças e a pensar.

A primeira tentativa de aprender não foi fácil. Benjamim recorda dois senhores no Parque do Bonfim, sentados frente a um tabuleiro de xadrez. Quando ele e um amigo se aproximaram para pedir que os ensinassem, ouviram apenas uma resposta pragmática: “Comprem um livro”. E compraram. A prestações. Lido a dois, em dias alternados. Um livro vindo do Brasil, pago à prima do amigo, em suaves parcelas de cinco centavos por semana. “Demorámos dois anos a aprender.”

Desde então, o xadrez nunca mais o largou. Mesmo quando emigrou para o Canadá, onde teve de reaprender línguas, fazer cursos, procurar emprego. Enquanto esperava que os papéis se alinhassem, começou a dar explicações de português e matemática numa associação a filhos de emigrantes, por conta de um clube comunitário. Mais tarde, trabalhou como voluntário na Cruz Vermelha. “Queria uma certificação que provasse que tinha trabalhado. E o voluntariado abriu-me essa porta.”

Talvez por isso, quando regressou a Portugal, o voluntariado fosse um gesto natural. Hoje, no Centro Comunitário, continua a fazer o que aprendeu no tabuleiro: pensar em várias frentes, fazer avançar as peças certas no momento certo, neste caso, os alunos.

Benjamim não se considera um génio do xadrez. Nunca foi campeão. Não ganhou torneios. “Sou mais Ronaldo que Messi”, diz a rir. “Não tenho o dom. Estudo muito. Trabalho muito.” Prefere observar partidas longas, acompanhar o raciocínio de outros jogadores, escutar o que não se diz entre movimentos.
Talvez esteja aí o segredo do seu método. Em vez de ensinar checkmates desde o primeiro dia, começa pelos gestos mais simples: pôr as peças no tabuleiro, perceber para onde podem ir, jogar só com peões, depois as com torres, depois bispos. “E só depois, quando dominam os movimentos, começamos a falar de estratégia.”

É um processo paciente, mas que funciona, particularmente com os mais pequenos. Conta que, em apenas duas horas, quatro crianças que nunca tinham tocado num tabuleiro saíram a saber mover todas as peças. “A complexidade do jogo leva tempo. Mas os miúdos entram no jogo com uma vontade que contagia.”

O xadrez, acredita, é um antídoto contra o mundo veloz das consolas e dos ecrãs. Ensina a parar. A planear. A perder. E a continuar. “Os miúdos que choram quando perdem são os que mais prometem. São os que vão lutar para não perder.”

O jogo, diz, transforma. Vê isso nas crianças com quem trabalha, incluindo uma criança com autismo severo que, religiosamente, aparece todas as semanas para jogar com ele. “Já pede para tirar fotografias ao tabuleiro para estudar em casa.”

Além de ter desenvolvido um método próprio, Benjamim adapta-se a cada grupo. Usa diagramas visuais feitos em programas de computador, folhas com movimentos impressos, atividades divididas por idades. E partilha a tarefa com outros voluntários, quando os grupos crescem.

O recém-criado Clube de Xadrez de Setúbal é parceiro da União das Freguesias de Setúbal, encontrando-se atualmente a funcionar nas instalações do Centro Comunitário. Esta colaboração tem sido essencial para a democratização da modalidade no concelho, com a presença regular do clube em eventos de rua, momentos de convívio informal e aulas abertas a todos, independentemente da idade ou nível de experiência.

Durante o mês de agosto, haverá os encontros casuais todos os sábados à tarde no polo de Santa Maria, na Rua de Mormugão, e em setembro estão previstas as aulas regulares que decorrem todas as terças-feiras, às 14h30.

A participação é gratuita e aberta a todos os que queiram aprender, miúdos, graúdos ou curiosos do jogo.

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