Com o romper da alvorada de 31 de maio, Setúbal reencontra-se com a sua tradição: as Festas em Honra de Nosso Senhor Jesus do Bonfim, ritual secular que liga a doca e suas gentes ao coração da cidade. Há mais de meio milénio, os pescadores acreditam que a imagem original do Senhor do Bonfim se fez milagrosamente presente nas águas do Sado, protegendo-os das tempestades e guiando-os de regresso a terra. Essa mesma fé, transmitida de geração em geração, acende hoje o convite da Comissão de Festas: que todos os barcos voltem a afluir ao cais no dia da procissão, mantendo a tradição das artes marítimas e pedindo pela prosperidade das capturas.
A grande novidade desta edição é a nova réplica da imagem, cuidadosamente esculpida com braços mais leves para passar no claustro do Convento de Jesus e para ser transportada em ombros, tal como marcava a tradição de antigamente. “Foi um sonho antigo que só se tornou possível graças à generosidade do comércio local, dos particulares e dos próprios pescadores”, recorda Lurdes Caetano e Conceição Lino, membros da Comissão, com mil histórias de quem passou a sua infância à beira-mar.
O programa inicia-se na terça-feira, dia 27, com o terço às 17h45 na Igreja de Nossa Senhora da Anunciada, repetindo-se diariamente até sexta-feira, e culmina num terço noturno, no sábado à noite, na Igreja do Convento de Jesus. No domingo, 1 de junho, após a missa solene das 12h, procede-se à bênção oficial da nova imagem, que seguirá numa procissão até à beira-mar pelas 17h. É nesse momento que se espera também o desfile dos barcos, frotas civis e artesanais, com suas redes e estandartes.
A Comissão de Festas lança ainda um apelo: “São precisos voluntários para erguerem o Senhor do Bonfim em ombros”, explica Rogério Caetano, filho de pescador e membro ativo da organização. Revezar forças, substituir quem faltar à última hora ou simplesmente estrear-se como porta-andor, todas elas razões válidas para dar continuidade a uma tradição que dá voz ao silêncio das águas.
Neste momento está ainda a decorrer o período de peditório, em que quase uma centena de cartas percorrem o comércio e as casas da cidade e que revelam a solidariedade e devoção dos setubalenses.
Foi entre memórias de infância — como as histórias de mães a costurar na cama, ouvindo a rádio Setúbal Pesca — e as promessas de renovação, que a Comissão de Festas em homenagem ao Sr. Jesus do Bonfim reafirmou o seu compromisso de continuar a inscrever no tempo esta tradição.
A União das Freguesias de Setúbal apoia este evento que constitui um elo entre os Setubalenses e as suas tradições marítimas.










